IMPLANTAÇÃO DA XXX RA DA MARÉ

Na época da chegada dos portugueses ao Brasil, em 1500, a área hoje ocupada pelas comunidades da Maré era recanto da Baía de Guanabara, formado por praias, ilhas e manguezais.

As praias tinham água e areia limpas: a mata fechada permanecia intocada; os manguezais serviam como fonte de alimento para várias espécies animais; havia aves aquáticas, caranguejo e muito peixe e camarão. Até mesmo baleias nadavam tranqüilamente na Baía de Guanabara. As ilhas pareciam um paraíso tropical. Por contraste, a mesma área é hoje uma das mais poluídas da cidade.

A ação destruidora do homem começou com a extração do pau-brasil que segundo os registros mais antigos, era abundante na região. Em nome do comércio da madeira nobre, os colonizadores arrasaram as matas e provocaram a fuga das tribos indígenas locais para o interior.

Para escoar os produtos explorados e cultivados na região foi criado, no século XVI, o Porto de Inhaúma. Ele se localizava onde hoje termina a Avenida Guilherme Maxwell, no cruzamento com a rua Praia de Inhaúma. O porto desenvolveu importante papel econômico para o subúrbio e terminou seus dias abrigando a Colônia de Pescadores Z-6. Desapareceu nas primeiras décadas do século XX, após os sucessivos aterros na área.

Entre meados dos séculos XVII e XVIII, a região da Maré - também conhecida como Mar de Inhaúma - fazia parte da Freguesia rural de Inhaúma e integrava uma grande propriedade: a Fazenda do Engenho da Pedra. Suas terras abrangiam os atuais bairros de Olaria, Ramos, Bonsucesso e parte de Manguinhos. Hoje, onde seria a sede da fazenda, restam apenas ruínas, que foram ocupadas pela Favela da Igrejinha, em Ramos.

A vinda da Família Real ao Rio de Janeiro, em 1808, trouxe facilidades para o exercício do comércio e proporcionou uma maior ocupação das áreas rurais da cidade. Mas, o esmorecimento do mercado externo não tardou e, no decorrer do século XIX, os proprietários buscaram novas formas de obtenção de renda. Iniciou-se, então , um processo de arrendamento de parcelas das fazendas a pequenos agricultores.

No final daquele século, os centros dos bairros começam a surgir em torno da linha férrea e suas estações.

Em 1899, foi fundado o Instituto Soroterápico (hoje Fundação Oswaldo Cruz), cujo trabalho de pesquisa tem reconhecidamente contribuído para o desenvolvimento científico do país.

No início do século XX, pequenos núcleos de povoamento - quase sempre formados por pescadores - já se aglutinavam em torno dos portos na região, como o Porto de Inhaúma e Maria Angu. Mas este processo acelerou-se mesmo com a reforma urbana da prefeitura de Pereira Passos - que expulsou a população mais pobre do centro da cidade, provocando a ocupação das zonas periféricas.

A partir da mesma época, a enseada de Inhaúma (que se estendia da Ponta do Caju até a Ponta do Tybau) teve sua orla de manguezais destruída pela ação de diversos aterros.

A Ponta do Tybau, por ser uma área de terra firme, foi uma das primeiras regiões a ser povoada. Era o início da Comunidade Maré, hoje, um bairro com cerca de 130.000 habitantes.

Dos primeiros habitantes à formação do bairro: o povoamento da Maré

A história da Maré urbana começa nos anos 40, com o desenvolvimento industrial do Rio de Janeiro. Nessa época, a cidade recebeu um grande fluxo de migrantes nordestinos, em busca de trabalho. O paradeiro deles foram as regiões desprezadas pela especulação imobiliária, como encostas e áreas alagadas.
Neste período, a região da Leopoldina já havia se transformado em núcleo industrial. E, como as terras boas do subúrbio tinham se tornado objeto da especulação imobiliária, restou para a camada mais pobre a ocupação das áreas alagadiças no entorno da Baía de Guanabara.

No final da década de 40, já havia palafitas ? barracos de madeira sobre a lama e a água ? na região. Surgem focos de povoação onde hoje se localizam as comunidades da Baixa do Sapateiro, Parque Maré e o Morro do Timbau ? única naturalmente de terra firme. As palafitas se estendem por toda a Maré e só no início dos anos 80 foram erradicadas.

A construção da Avenida Brasil - concluída em 1946 - foi determinante para a ocupação da área, que prosseguiu pela década de 50, resultando na criação de outras comunidades, como Rubens Vaz e Parque União.

Nos anos 60, um novo fluxo de ocupação da Maré teve início. Durante o Governo Estadual de Carlos Lacerda (1961-1965), foram realizadas obras de modernização na Zona Sul da cidade, com a conseqüente erradicação de favelas e remoção de sua população para regiões distantes do município.

A partir de 1960, moradores de favelas como Praia do Pinto, Morro da Formiga, Favela do Esqueleto e desabrigados das margens do rio Faria-Timbó foram transferidos para habitações 'provisórias' construídas na Maré. Daí surgiu a comunidade de Nova Holanda.

Até o início dos anos 80, quando a Maré das palafitas era símbolo da miséria nacional, como retrata a música 'Alagados', do Paralamas do Sucesso. Mas esse período marca também a primeira grande intervenção do Governo Federal na área: o Projeto Rio, que previa o aterro das regiões alagadas e a transferência dos moradores das palafitas para construções pré-fabricadas. São hoje as comunidades da Vila do João, Vila do Pinheiro, Conjunto Pinheiro e Conjunto Esperança.

Em 1988, foi criada a 30ª Região Administrativa, abarcando a área da Maré. A primeira R. A. da cidade a se instalar numa favela marcou o reconhecimento da região como um bairro popular.

Nos anos 80 e 90, foram construídas as habitações da Nova Maré e Bento Ribeiro Dantas, para transferir moradores de áreas de risco da cidade. Já a pequena comunidade inaugurada em 2000 pela prefeitura e batizada pelos moradores de Salsa e Merengue é tida como a extensão da Vila do Pinheiro.

Conhecendo o Bairro Maré

A Maré é o maior complexo de favelas do Rio de Janeiro e um dos espaços populares mais conhecidos do país. A fama, entretanto, é conseqüência dos precários indicadores sociais que caracterizam a região.

Localizada junto à Baía de Guanabara, à Av. Brasil e às principais vias de acesso à cidade, a Maré ocupa uma presença significativa no imaginário carioca.

Foi, durante muito tempo, dominada por palafitas - habitações precárias suspensas sobre a lama e a água - em visível contraste com as modernas arquiteturas do Aeroporto Internacional e da Cidade Universitária da UFRJ. Este fato contribuiu para uma visão generalizada da região como um espaço miserável, violento e sem condições dignas de vida. Na década de 80, a Maré das palafitas inspirou a música 'Alagados', dos Paralamas do Sucesso.

População

A Maré é formada por uma população de negros e migrantes, com pouca escolaridade e qualificação e baixa renda familiar. No universo de 28 grupos de favelas da cidade, a Maré fica em 11ª posição no índice de Qualidade de Vida Urbana - resultado próximo ao da média das favelas cariocas. Quanto aos itens básicos de infra-estrutura, como luz, água e esgoto, a Maré conquistou importantes avanços nos últimos 20 anos. Mas o mesmo não ocorreu no campo econômico e cultural. Como, por exemplo, até o início dos anos 90, só 0,6% da população local tinha diploma de graduação, enquanto o número de analfabetos beirava os 20%. Já se o assunto é geração de renda, mais de 2/3 dos trabalhadores da Maré afirmam que ganham menos de dois salários mínimos por mês.

À primeira vista, esses dados padronizam a população numa mesma massa de bolo. Mas um olhar atento revela que existe uma rica diversidade de práticas, pessoas e grupos na realidade cotidiana da Maré. Com cerca de 130 mil habitantes, o bairro mais parece uma concha de retalhos, tecida por comunidades com histórias e características distintas de ocupação. Suas 16 comunidades estão distribuídas em pouco mais de 800 mil m² e formam o chamado Complexo da Maré.

O status de bairro veio em 1994. Atualmente, a 30ª Administração Regional responde pela Maré, abrangendo tanto os conjuntos habitacionais quanto as áreas de antigas favelas.

As Comunidades

Formada por 16 comunidades, cada uma com sua própria história de ocupação, a Maré é como uma 'colcha de retalhos'. E isso a torna ainda mais interessante e diversificada culturalmente. São estas as comunidades que, ao longo de 60 anos, formaram o Bairro Maré como hoje conhecemos:

1940 - Morro do Timbau
1947 - Baixa do Sapateiro
1948 - Conjunto Marcílio Dias
1953 - Parque Maré
1955 - Parque Roquete Pinto
1961 - Parque Rubens Vaz
1961 - Parque União
1962 - Nova Holanda
1962 - Praia de Ramos
1982 - Conjunto Esperança
1982 - Vila do João
1989 - Vila do Pinheiro
1989 - Conjunto dos Pinheiros
1992 - Conjunto Bento Ribeiro Dantas
1996 - Conjunto Nova Maré
2000 - Salsa e Merengue

 

Fonte: www.rio.rj.gov.br

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