INTOLERÂNCIA RELIGIOSA &

RELIGIÕES DE MATRIZES AFRICANA,

O ESTADO E AS IGREJAS

MINICURSO NA PUC-Rio - realizado 9,10 e 11 Out. Gávea Rj

O Departamento de Relações Internacionais da PUC-Rio, em parceria com o Coletivo Nuvem Negra, ofereceu na PUC-Rio, nos dias 9, 10 e 11 de outubro, de 15h às 17h, sala F206 - Edifício da Amizade, ala Frings. O minicurso: "Intolerância Religiosa, Religiões de Matrizes Africanas e o Racismo Atravessado pela Religião", ministrado por Lucas Obalera de Deus, deu direito a Certificado que vale para hora complementares para os alunos de graduação da PUC-Rio, e inscrições online.

Além da Intolerância Religiosa, o curso abordou também: “O lugar subalternizado conferido as religiões de matrizes africanas e o seu respectivo processo de perseguição, partindo da reflexação acerca dos efeitos do racismo e da “colonialidade” no processo de naturalização e legetimação das diversas violência perpetradas contra as comunidades-terreiro, e a formação do Estado brasileiro”.

Para Lucas Obalera de Deus, os Negros trazidos da Diáspora Africana, encontraram nos Terreiros, o espaço de resistência cultural, filosófica, em contraposição a cultura cristã, imposta pelo colonizador Branco. Ali nesse espaço conta Lucas, “os negros cantavam, dançavam, trocavam experiências sobre os seus valores culturais, por isso que ate hoje os Terreiros são perseguidos”. Mas porque a perseguição, questiona-se Lucas? “Os Terreiros são espaços de cultura em um complexo civilizatório de continuidade africana e resistência cultural, filosófica; capaz de preservar e restituir a humanidade aviltada pelo racismo e escravidão?” Partindo dessa reflexão Lucas recapitula as narrativas da grande mídia que no “imaginário popular”, discrimina as culturas de matrizes africanas diariamente nos veículos de comunicações, principalmente os de cunhos evangélicos e petencostais. Citou exemplos de pessoas que são descriminadas por suas vestes, oferendas, crenças. E perguntou aos participantes sobre a temática da religião de matrizes africanas nas escolas: “Será o momento de tratar a temática sobre orixás não só como religião, mas, sobretudo como sendo parte de um sistema complexo cultural? Será que os conceitos de Laicidade, “multifacetados”, explica o processo histórico, cultural, social e político de cada sociedade? Se sim, cabe indagarmos: “Mas de que processo civilizatório?

Qual o processo histórico, cultural de formação histórico, econômico do Estado Brasileiro?”Respondendo as perguntas que envolvem a temática: Escravidão, Colonialismo e Racismo, Lucas buscou fundamento teórico, cientifico, em personagens da Literatura Brasileira/Africana: Abdias Nascimento; Manoel Bonfim; Frantz Fanon; Sueli Carneiro e Neuza Santos, no estudo da formação do povo brasileiro: Segundo Lucas, “A formação desse país se iniciou-se com o simultâneo aparecimento da raça negra fertilizando o solo brasileiro com suas lagrimas, sangue, suor e seu martírio na escravidão”. Abrindo para o dialogo com a turma, Lucas pergunta: “O sistema colonial português tem caráter saqueador, depredador ou conquistador? É esse o sistema de referencia? O “epistemicídio é um sistema de dominação e hierarquização racial”? Fechando o raciocínio Lucas, diz que Neuza Santos, vai associar ao etnocídio cultural africano ao que ela chama: “massacre identidade” de negros e negras à “submissão ideológica” a identidade renunciada” e a assimilação aos padrões brancos”.

Mudando o foco, abrindo um parênteses sobre o tema, Colonialidade: Lucas questionou? “A colonização é intrínseca ao processo de formação do nosso povo? Ele se findou com o fim da colonização? É uma categoria que postula permanências, continuidades, descontinuidades e atualização do sistema colonial moderno? É sob esse sistema que o processo de Laicidade racializado, se organizam? O que significa renunciar a esse sistema e a essa categoria institucionalizada? Segundo Lucas, o sistema político e econômico dominante, cria aparatos ideológicos para sua perpetuação, quando menciona: ( Ochy Curiel)? “Frente a este tempo las ciências sociales, tienen um compromisso ético: Oferecer ferramentas teóricas, metodológicas, epstomologicas e políticas para explicar essa realidade y poder actuar sobre ellas”.

Daí se explica o racismo institucionalizado e hierarquizado, que perpassa de tempos em tempos, de geração para geração com seus apetrechos e aparatos ideológicos. Para Lucas: “A categoria intolerância não nos instrumentaliza a perceber o racismo como parte central na compreensão da perseguição as religiões de matrizes africanas. Além disso, resumidamente ao questionarmos intolerância, invariavelmente vamos ao encontro do seu oposto da tolerância. Contudo, a idéia de tolerância preserva a crença na existência de uma verdade única e absoluta. Essa perspectiva tecnológica e cosmológica compreende e se relaciona de maneira hierarquizadora, paternalista, que no limite visa o extermínio dessa alteridade.

Além disso, continuamos operando com o prisma do paradigma cultural europeu? Mas o que o racismo tem em comum com esse sistema de dominação, hierarquizado”? “Lucas encontra em Carlos Moore, a resposta quando menciona: “O racismo é uma ordem sistêmica em si”, uma estrutura total e autônoma que construiria seus próprios modelos ideológicos de sustentação e não uma ligação subalterna de qualquer outra estrutura”. Lucas aproveita e faz uma critica: “O racismo além do aparato ideológico tem seu sustentáculo no Judiciário. É um sistema que se organiza em três instancias entrelaçadas, econômica e politicamente: Ou seja: estruturas econômicas, políticas e jurídicas . Ele se insere no Imaginário social, na ordem simbólica, política, controla seus códigos, comportamentos que regem a vida interpessoal”. Segundo Lucas, esse sistema não só se organiza no aspecto cultural, na ordem do particular, é na sua forma de existir. E por isso ele justifica aos ataques aos Terreiros. “A violência direcionada as comunidades africanas atingem direta e indiretamente o modo de existir. Tentam anular o modo de se vestir, falar e se comunicar com o corpo; O racismo esta implícita e explicitamente dentro de uma pessoa e/ou individuo. Poderíamos até ira além para dizer que esse comportamento esta na humanidade”

Com relação à hermenêutica bíblica, Lucas buscou nas referências em ativistas e militantes negros: Ronilson Pacheco, Munanga e Estive Bico, para colocar a luz, as mazelas das igrejas católicas, evangélicas e pentecostais, que são as bases ideológicas do sistema colonial, quando menciona: “A bíblia é um livro negro de hermenêutica branca, em total desrespeito e fragrante violação, à religião dos africanos”. Lucas, afirma: “Se não tiver como referência os deuses bíblicos nada presta. Pois, a preocupação cristã consiste em salvar almas e deixar os corpos morrerem”. E essa lógica, diz Lucas, entram em contradição com a cosmologia, os arquétipos negros e indígenas, povos originários. “Por alguma lógica estranha eles argumentavam que a religião deles era científica, e nossa mera superstição [...] E lá se foram os nossos valores culturais”. Neste contexto, a imprensa publicizou que o Juízo em sentença judicial, afirmara que as religiões de matrizes africanas não eram cientifico, por que não era escrito, sua forma de passar o conhecimento é pela oralidade. Para Lucas, as igrejas tanto católicas e evangélicas, historicamente são instituições centrais dos sistemas coloniais, nada mudou com o fim do império, nem com o surgimento da republica. “O processo de colonização foram/são fundamentais nos processo de “sistemas de referencia”. E para Lucas existe um maniqueísmo: “É preciso romper com o paradigma cultural ocidental”. Pois: “O cristianismo se organiza por meio de uma cosmologia maniqueísta, isto é, o mundo é concebido a partir da divisão do “Bem contra o Mal: Deus e Diabo”

Lucas, diz: “Esta forma de se estruturar o mundo, radicalizada pelo neopetencostismo, que vai se sustentar e conferir significado e sentido, a demonização das comunidades tradicionais de matrizes africanas”. E Para Lucas, não existe respeito a tolerância, “não tem lugar”. Aprofundando seu estudo sobre o neopetencostismo, a partir da década de 1970, em pleno século XX, Lucas faz um paralelo com o surgimento da (IURD) Igreja Universal do Reino de Deus, e a violência aos Terreiros. Segundo Lucas, há por parte desse segmento religioso, total o desrespeito as comunidades tradicionais. “Com o advento do neopetencostismo – terceira fase do movimento petencostal por Edir Macedo (1977), os casos de violência direcionadas as religiões de matrizes africana ficaram mais freqüente e por vezes mais violenta. A igreja Universal desenvolveu um estilo beligerante em seu proselitismo religioso, ao adotar o “ethos religioso”, através da “Teologia da Demononização da Diferença”. E qual seria a base ideológica, e principais características do Neopetencostismo? Para Lucas, Wagner Gonçalves, vai dizer que estaria no peso econômico e político; poder de influencia da Igreja Universal através da grande mídia e dos meios de comunicação de massa. “Do ascetismo; A utilização de gestão empresarial na condução dos templos; Ênfase na teologia da prosperidade e Centralidade de teologia da Batalha espiritual; Identificação das divindades do panteão afro com o demônio; Libertação pelo poder do sangue vivo de Jesus; e por ultimo: a Conversão”.

Daí decorre segundo Lucas a grande batalha espiritual potencializado pelo neopetencostismo, onde os deuses africanos são demonizados. Será que os “Orixás, cablocos e guias”, são deuses ou demônios? Não dar para falar sobre essa guerra sem ouvir o que diz o Bispo Macedo, quando ele menciona em seu livro: “A umbanda, quimbanda,candomblé e o espiritismo de um modo geral, são os principais canais de atuação dos demônios; São moradas do demônio, no qual os lideres religiosos são serviçais do diabo; Suas divindades são espíritos malignos, onde portanto os cultos são rituais dos demônios e seus fieis e clientes são pessoas ignorantes que caíram nas armadilhas de satanás”. Segundo Lucas, os adeptos da igreja Universal vão dizer: “Doenças, misérias e desastres e todos os problemas que afringem o ser humano desde que iniciou sua vida na terra tem uma origem o diabo; Essa luta contra satanás é necessária para podermos dar o devido valor a salvação eterna, pois não há vitoria sem luta”. Para Lucas, estamos diante de uma guerra ideológica e espiritual por parte da igreja universal. E a Igreja Universal para consolidar a sua batalha espiritual, institui dentro da igreja, a ofensiva espiritual “a sessão de descarrego”. “O sujeito aprende uma nova forma de aprender o mundo (o ele) o outro (o eu) e o si mesmo (o eu) e de se posicionar diante desses a partir de uma economia de vínculos” diz Lucas citando uma de suas idéias em conjunto PACHECO, Ronilson, (2017)? “Até quando vamos permitir que determinados espaços religiosos evangélicos continuem se valendo da dita vontade de “DEUS”, para pregações que inspirem perseguição, e quiçá a eliminação de pessoas e culturas, ou legitimar tais violências com o silencio?”. E qual seria a base da sustentação desse sistema racista naturalizado hoje em dia, questiona-se Lucas? Mas uma vez Lucas questiona: “O racismo é a base para a naturalização da perseguição, o terreno fértil para a retórica teológica neopetescostal de negação matrizes africanas e comunidades de terreiro”.

Lucas, pergunta: “As nossas Comidas Típicas, o Samba, Maracatu, Capoeira, o Jongo, não são de matrizes africana? Não é cultura”? A batalha cultural começa em desmistificar o alimento sagrado africano, outros rituais para desqualificar em seus cultos, como: “oração do descarrego?” parafraseando Fenon, Lucas vai dizer: “ Tal como o racismo , não existem graus de agressão as religiões de matrizes africanas; em tudo , “o extermínio existe como horizonte . Se fosse ao contrario, Lucas pergunta: “Se alguém esta impedido de conectar com sua fé não é racismo? Já pensaram se alguém rezar em público o “pai nosso”, será que não prejudica alguém?

Invadir literalmente um terreiro e destruir os seus apetrechos não são racismo? Pegar um facão e ameaçar uma mãe de terreiro não é racismo? Por isso eu digo: “o extermínio existe como horizonte”. Cético, Lucas pergunta aos participantes: “vamos pensar e construir outro mundo possível?” Conseguiremos acabar com a desconolização do pensamento – mentes encerradas? Pensar sobre o olhar do outro, “desconsolados”. Romper com o paradigma da verdade absoluta? Irmos ao encontro da cosmovisões contra hegemônicas, não ocidentais? “Universal pluriversal ”.

Concluindo Lucas, questiona a ideia de “universalidade”: “Será que a universalidade não ressalta uma exclusão total do outro? O universal é o particular de outro lugar? É preciso universalizar o universal? Finalizado, Lucas, menciona Ramouse e Nogueira: “Existem vários universos culturais, não existe um sistema único organizado em centros e periferias, mas um conjunto de sistemas policêntricos”. Fechando agradecendo a todos, por mais tolerância, respeito a diversidade e respeito as religiões de matrizes africanas, Lucas de Deus: “O respeito Afrorreligioso tem como princípio, a possibilidades de múltiplas verdades”.

 

Texto: Reinaldo de Jesus Cunha
Jornalista: 0036785/RJ

 

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